segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Fortaleza do Seival

O vinho brasileiro já faz algum tempo que vem passando por uma revolução semelhante a que há muito ocorreu no Chile e mais recentemente na Argentina, que é a substituição dos vinhos ordinários por vinhos de qualidade, através da valorização da qualidade e um revés na quantidade. Nos nossos vizinhos talvez o estopim tenha sido as exportações - hoje são dois gigantes mundiais - enquanto que aqui talvez tenha sido as importações. Se lá fora os consumidores há muito já exigiam qualidade, a recente revolução do paladar do brasileiro também exigiu uma readequação das empresas nacionais.
Empresas já tradicionais ou familiares começaram a investir em tecnologia e cuidados para produzir vinhos de qualidade excelente, preocupações que vão do parreiral à vinícola . A grosso modo, pode-se citar as gaúchas Salton, Aurora, Casa Valduga, Miolo. Também destacam-se os projetos ousados como a Vila Francioni na serra de Santa Catarina e a Rio Sol no vale do São Francisco, em pleno nordeste. Mas isto é a grosso modo, existe muito mais e o brasileiro precisa conhecer mais e eu espero colaborar nesta descoberta.
Talvez o mais iriquieto de todos seja o grupo Miolo, que de uma pequena empresa familiar se transformou em um grande aglomerado com vinhedos e fábricas no Vale dos Vinhedos, Serra Gaúcha, Campanha e Vale do São Francisco. Com a ajuda de consultores internacionais alterou o processo de cultivo - que em muitos casos exigiu replantar parreirais inteiros - e o processo de produção. Um desses projetos é o Fortaleza do Seival, na região da Campanha, no Rio Grande do Sul. A região fica na divisa com o Uruguai e apesar de tradicionalmente estar ligada a exploração pecuária, foi escolhida pelos seus campos planos, temperaturas mais amenas e menor incidência de chuvas.
Os vinhos produzidos na linha Fortaleza do Seival destacam-se pela excelente relação custo/qualidade, ótimos para o dia-a-dia e para aqueles momentos de descontração. Mas como faz parte da Miolo fazer vinhos superpremium, surgiu o Quinta do Seival Castas Portuguesas, um projeto audacioso com uvas de origem portuguesas, de plantio inédito no país: Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz.
Recém lançado nesta safra de 2008, o Fortaleza do Seival Viogner merece um destaque. A Viogner é uma uva típica do sul da França, da região do Rhône, de onde é feito o emblemático Condrieu e também no corte de vinhos tintos Côtes-du-Rhône, para fornecer suas características aromáticas. Esta casta já fazia sucesso na Argentina e agora certamente vai fazer sucesso no Brasil. O único porém que seus vinhos devem ser consumidos jovens, no ano de produção, pois não suportam mais que um ano em garrafa.

Vinho: Fortaleza do Seival Viogner
Casta(s): Viogner
Produtor: Miolo
Região: Campanha - RS
País: Brasil
Valor: R$ 18,00
Nota: 86/100

Vinho muito, mas muito aromático, com características tropicais que parecem pular do copo, lembrando a abacaxi, maracujá e flores. Na boca ofereceu uma acidez bastante equilibrada, ótima para entradas e saladas.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Água, malte e lúpulo

Já faz algum tempo que tenho evitado beber cerveja. Não porque eu não goste, mas sim pelo fato de que não tenho apreciado dos efeitos colaterais. A princípio eu pensei que era algum problema comigo, principalmente devido à intolerância que tenho ao glúten (não sou alérgico), mas compartilhando com outras pessoas notei que os efeitos eram semelhantes. O mais comum é a sensação de "estufamento", de que a barriga vai estourar ou de que acabou de comer três pratos de feijoada. Para mim ainda outros efeitos ocorrem, como atacar a renite e, se exagerar na quantidade, um certo desarranjo intestinal no dia seguinte. Além de que as cervejas estão cada vez mais aguadas e sem gosto. Desta forma cheguei a conclusão de que algo está acontecendo a nossa cerveja, principalmente às mais ordinárias como Skol, Antártica, Brahma, Kaiser, Bohemia, Schincariol, Bavária, Itaipava, etc..

A lei da pureza da cerveja foi instituída em 1516, pelo Duque Guilherme IV da Baviera e determinava que a cerveja deveria ser feita com apenas 3 ingredientes: malte, água e lúpulo (Na época ainda não tinha nascido Pasteur e não se conhecia bem as leveduras). Simples assim e quase completando 500 anos. Para deixar mais clara a receita, vou esmiuçar que são os três ingredientes:

Malte: é a matéria-prima fundamental, obtido a partir da germinação da cevada. Variando as condições de maltagem (temperatura e humidade) obtêm-se diferentes tipos de malte que conferem diferentes cores e características aromáticas à cerveja. Outras técnicas adicionais como a defumação e torragem também são adotadas ao malte.

Lúpulo: O Humulus lupulos é uma planta aromática que confere à cerveja o aroma e amargo característicos. Também é a responsável pela formação de uma boa espuma e é uma proteção natural às contaminações microbiológicas. Conforme a quantidade de resina e de óleos essenciais, as variedades de lúpulo podem ser mais amargos e/ou mais aromáticos.

Água: própria para consumo e possuir uma composição em sais minerais adequada à fabricação de cerveja, preferencialmente de fonte natural.

E observando as embalagens destas cervejas baratas, pode-se notar que alguns "extras" foram adicionados à secular receita: cereais não maltados, carboidratos, antioxidante e estabilizante. Os dois últimos componentes se espera, uma vez que são produtos industriais, mas e os dois primeiros? Vejam pois:

Cereais não maltados: pelo nome deduz-se que sejam outros cereais tipo milho, trigo, arroz e a própria cevada que não foram germinados. Imagino que tenha o objetivo de atenuar o gosto ("cerveja leve e suave") e, principalmente, os custos de produção.

Carboidratos: Como a categoria dos hidratos de carbono é extensa, não consigo pensar no que seja. Batatas? Dextrose? Arroz cozido? Pão francês? Maltodextrina? Maisena? Caramelo? Também imagino que o objetivo seja reduzir os custos, auxiliando na fermentação, no gosto e/ou na cor.

De qualquer forma o único aprofundamento feito aqui foi a respeito dos ingredientes sem analisar o processo produtivo, ou seja, a fermentação, que certamente teve que ser readequado para que os custos, mais uma vez, fossem reduzidos. Reflexos da economia de escala e das cobranças dos investidores. Outro agravante é o modo de beber do brasileiro: estupidamente gelada, ou seja, amortecendo a língua e não sentindo o gosto, logo, qualquer suco de cevada serve.

Assim, a partir de algumas inferências e empirismo, acho que consegui demonstrar boas causas para os efeitos colaterais da cerveja. Pelo menos eu me convenci. Porém uma pergunta fica em aberto: o que fazer? O que tomar com os amigos ou com aqueles pratos onde o vinho normalmente não é o mais indicado, a exemplo da feijoada? A resposta é procurar cervejas melhores, as importadas (apesar de que a maioria que chega por aqui é industrial) ou dos pequenos fabricantes, as microcervejarias.

Para a sorte dos glutões de plantão é que esta indignação também incomodou a muitos apreciadores que resolveram entrar na luta contra, fabricando a própria cerveja e assim surgiram várias marcas de qualidade no mercado. Além de fabricar cervejas de qualidade, de acordo com as leis da pureza, outros tipos de cerveja começaram a aparecer além da pilsen: porter, ale, pale ale, stout, wissbier, lager, etc. Em geral de produção limitada e, logicamente, preços mais elevados. Mas o investimento extra vale, torca-se quantidade por qualidade, além ajudar de reduzir aquela detestável pança.

Dentre os fabricantes nacionais de cerveja de qualidade posso citar as já cohecidas Baden Baden e Eisenbahn e outras menos conhecidas: Backer, Devassa, Therezópolis, Bruge, Colorado, Bauhaus, entre outras. A medida que eu for tomando, ou tomando novamente, eu compartilharei aqui as experiências e o prazer proporcionando.

Bons goles e sempre com os dois dedos de espuma.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Petit Gâteau

Sobremesa quase obrigatória nos restaurantes brasileiros o Petit Gâteau (pequeno bolo) é uma sobremesa um tanto quanto polêmica e de origem incerta que caiu no gosto do brasileiro. Un dizem que foi criado aqui no Brasil pelo chef Francês aqui radicado Erick Jacquin, outros dizem que ele apenas colocou o nome, alguns dizem que foi criado pelo chef Francês Michel Bras, e terceiros dizem que foi criado pelo chef, também Francês, Jean-Georges Vongerichten em Nova York.

Um pequeno bolo de chocolate (o original) quentinho, assado rapidamente, não muito doce e com o recheio líquido que escorre pelo prato quando cortado, acompanhado de uma bola de sorvete de creme... chegou para ficar. A sobremesa agradou tanto o paladar brasileiro que, segundo palavras do próprio Erick Jacquin, virou a "feijoada" da sobremesa, tamanha a popularidade. Já o crítico de gastronomia Josimar melo da Folha de São Paulo polemizou ao chamar de "bolo cru".

Sendo invenção francesa, norte-americana ou brasileira, sendo cru ou não é uma ótima receita para a sobremesa do final de semana.

Ingredientes
• 250 g de chocolate amargo próprio para culinária
• 200 g de manteiga a temperatura ambiente
• 4 ovos inteiros
• 4 colheres (sopa)de açúcar
• 4 colheres (sopa) de farinha de trigo

Modo de preparo
• Derreta o chocolate em uma panela em banho-maria. Ainda em banho-maria, junte a manteiga, mexendo para que a manteiga derreta e junte-se de forma homogênea ao chocolate;
• Em uma vasilha, bata os ovos com um mexedor de arame até homogeneizar e adicionando aos poucos o açúcar e mexa até ficar bem incorporados;
• Retire o chocolate do fogo e, mexendo sempre, despeje aos poucos na vasilha dos ovos misturados, mexa até misturar tudo muito bem.
• Mexendo sempre, misture aos poucos a farinha de trigo;
• Unte as forminhas com manteiga e farinha. Use forminhas próprias para petit gâteau ou aquelas para suflet. Coloque a massa nas forminhas e deixe na geladeiras por pelo 2 horas; É possível congelar para assar depois;
Pré-aqueça o forno em temperatura máxima e asse em forno pré-aquecido a 200ºC por 7 a 8 minutos aproximadamente. O petit gâteau precisa ficar assado por fora e mole por dentro;
• Desenforme, coloque em um prato, polvilhe com açúcar de confeiteiro e sirva com sorvete de creme e raspas de chocolate.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Paella



Talvez o prato que mais caracterize a Espanha seja a Paella. Um prato festivo, delicioso, de punjentes aromas e uma adorável cor amarelada. Diz a história popular que é um prato exclusivamente masculino, elaborado pelos homens do campo na hora do almoço, preparado com arroz, verduras e um coelho ou pato selvagem caçado o caminho para a roça.

O nome Paella na verdade é o recipiente onde é cozido, uma espécie de panela de fundo de diâmetro grande e borda baixa, que ajuda a cozinhar o arroz de forma uniforme. Existem diversas receitas de paellas, mas as mais comuns e conhecidas são as de carne com coelho, frangos e verduras; as de frutos do mar, feitas com moluscos, peixes, camarões e lagostas; as mistas com carnes e frutos do mar e as de tinta lula, que ficam pretinhas.

Um ingrediente que não pode faltar neste prato típico é o açafrão. O açafrão é obtido a partir dos estigmas de uma flor da região do mediterrâneo e é tido como a especiaria mais cara do mundo, pois para obter um kilo dela é necessário aproximadamente 200 mil flores. Por aqui é substituído pelo açafrão-da-terra, que na verdade é a cúrcuma, cujo preço é irrisório.

A muito tempo atrás, acho que uns oito anos ou mais, tentei fazer uma paella para a ceia de ano novo. Um desastre. Gastei uma fortuna em frutos do mar, trabalhei para burro e deixei o arroz queimar, ficou horrível. Como era um trauma na minha vida, resolvi este ano, com a ajuda da tia da Adriana (minha esposa) fazer uma paella. Desta vez acho que acertei, ficou muito boa, muito elogiada. Me redimi.

Existem diversas receitas, segue abaixo a que eu fiz, é quase uma valenciana, com exceção de que não vai o frango.

Ingredientes:
8 colheres de azeite de oliva
1 cebola picada
2 dentes de alho picados
1 pimentão vermelho cortado em tiras
1 pimentão amarelo cortado em tiras
500 g de lula em rodelas
1 polvo de 500 a 700g cozido (veja abaixo)
8 camarões pistola grandes
1 lata de mexilhões com a concha(veja abaixo)
1 lata de vôngoles com a concha(veja abaixo)
800 g de camarão pequeno (sete barbas, laguna, rosa) com casca (veja abaixo)
500 g de arroz parbolizado
1 litro de caldo de peixe (veja abaixo)
1 taça de vinho branco seco
1 pitada de açafrão.
Sal
Pimenta
cebolinha e salsinha

Modo de fazer:
Polvo
Coloque o polvo em uma panela com água para cobri-lo, 500 ml de vinho branco seco, 1 cebola e coloque para cozir por mais ou menos 2 horas, até que ele fique macio. corte os tentáculos da cabeça, deixando-os inteiros e corte a cabeça em pedaços.

Caldo de peixes:
Peça para o peixeiro descascar os camarões pequenos e guardar as cascas e cabeças. Lave bem os mexilhões e os vôngoles com uma escova. Em uma panela coloque uns dois litros de água para ferver, quando estiver com fervura forte coloque os mexilhões em pequenas quantidades e deixe ferver por alguns minutos até abrir, retire e reserve. Faça o mesmo com os vôngoles. Na mesma água despeje as cabeças e casca do camarão e, se conseguir com o peixeiro, uma carcaça de peixe fresco. Espere levantar fervura novamente, abaixe o fogo e cozinhe por no máximo 20 minutos. Coe e reserve.

Paella
Aqueça uma panela de fundo largo, especial para fazer paella, coloque o azeite na frigideira, espere o azeite aquecer e adicione a cebola, mechendo e refogando-a, em seguida adicione o alho e mexa mais um pouco. Acrescente as tiras de pimentão.

Em seguida adicione a lula crua. Adicione uma colher de sopa rasa de sal, pois o caldo de
peixe já é um pouco salgado. Despeje o arroz, sem lavar, e mexa refogando. Adicione um pouco de pimenta-do-reino moída na hora e o açafrão. Se não conseguir o açafrão use uma colher de sopa rasa de açafrão-da-terra (cúrcuma), uma de páprica doce e meia de páprica normal. Mexa para levemente para misturar os ingredientes. Adicione o vinho branco, mexa, para que o arroz absorva até o álcool evaporar. Adicione o caldo e mexa devagar para incorporar bem. Tampe a panela e abaixe o fogo para cozinhar. A partir deste momento não precisa mais mexer e cuide com o fogo para não queimar.

Tempere os camarões pistola com sal e pimenta moída na hora e grelhe-os, aos poucos, com um fio de azeite em uma frigideira de fundo grosso. O cozimento é rápido, sendo que ponto é mais ou menos quando a cauda quase tocar a cabeça. Lembre de virar.

No meio do cozimento adicione os camarões e misture levemente. Quando estiver quase no final do cozimento, verifique o sal e o ponto, o arroz deve ficar al dente, isto é resistente à mordida, adicione um pouco de água fervente se julgar necessário. Ao final do cozimento, mas ainda borbulhando adicione o corpo do polvo picado e os mexilhões sem concha, e misture levemente e então decorar com os camarões, os vôngoles com casca e os tentáculos de polvo. Desligue o fogo e deixe tampado alguns minutos para que todos os ingredientes fiquem aquecidos por igual. Lembrando que a paella deve ficar húmida, quase um risoto.

Antes de servir espalhe a cebolinha verde e a salsinha picados.

Vinhos do final de semana

Final de semana na praia com muito sol, calor e frutos do mar pedem um vinho branco simples, aromático e com boa acidez, servido aos 10ºC, para combinar com a "gordura" dos peixes, os aromas e sabores mais delicados e, também, para refrescar. Veja abaixo as experiências deste fim de semana.

Vinho: Chandon Passion
Casta(s): Assemblage
Produtor: Moët Hennessy
Região: Garibaldi - RS
País: Brasil
Valor: R$ 30,00
Nota: 86/100

Espumante produzido pela gigante LVMH (Grande aglomerado de empresas de artigos de luxo, entre elas Louis Vuitton, Moët & Chandon e Krüg) em Garibaldi no Rio Grande do Sul. É um corte não muito comum de Malsavia Bianca, Moscato Canelli e Pinot Noir. Meio-seco, com uma linda cor salmão. Nos aromas surgiu fermento, típico dos espumantes, e tropicais, lembrando maracujá. No paladar mostrou bom equilíbrio entre açúcar e acidez, agradando a quem não gosta de vinhos secos. Acompanhou um tainha assada na grelha, mas recomendaria para a sobremesa, acompanhando um bolo simples de laranja, um brioche, salada de frutas (com pouca laranja) e outras sobremesas sem chantily ou chocolate.

Vinho: Trapiche
Casta(s): Torrontés
Safra: 2007
Produtor: Bodegas Trapiche
Região: Mendoza
País: Argentina
Valor: R$ 15,00

Nota: 82/100

Vinho delicado e com aromas deliciosos, típicos dos vinhos desta uva, que é a cara dos vinhos brancos Argentinos. Na boca mostrou uma boa acidez, ideal para aperitivos e pratos de peixes de sabores mais delicados. Nos aromas se mostrou bastante floral e cítrico, lembrando à lima. Um vinho incrível para a sua faixa de preço.