Já faz algum tempo que tenho evitado beber cerveja. Não porque eu não goste, mas sim pelo fato de que não tenho apreciado dos efeitos colaterais. A princípio eu pensei que era algum problema comigo, principalmente devido à intolerância que tenho ao glúten (não sou alérgico), mas compartilhando com outras pessoas notei que os efeitos eram semelhantes. O mais comum é a sensação de "estufamento", de que a barriga vai estourar ou de que acabou de comer três pratos de feijoada. Para mim ainda outros efeitos ocorrem, como atacar a renite e, se exagerar na quantidade, um certo desarranjo intestinal no dia seguinte. Além de que as cervejas estão cada vez mais aguadas e sem gosto. Desta forma cheguei a conclusão de que algo está acontecendo a nossa cerveja, principalmente às mais ordinárias como Skol, Antártica, Brahma, Kaiser, Bohemia, Schincariol, Bavária, Itaipava, etc..
A lei da pureza da cerveja foi instituída em 1516, pelo Duque Guilherme IV da Baviera e determinava que a cerveja deveria ser feita com apenas 3 ingredientes: malte, água e lúpulo (Na época ainda não tinha nascido Pasteur e não se conhecia bem as leveduras). Simples assim e quase completando 500 anos. Para deixar mais clara a receita, vou esmiuçar que são os três ingredientes:
Malte: é a matéria-prima fundamental, obtido a partir da germinação da cevada. Variando as condições de maltagem (temperatura e humidade) obtêm-se diferentes tipos de malte que conferem diferentes cores e características aromáticas à cerveja. Outras técnicas adicionais como a defumação e torragem também são adotadas ao malte.
Lúpulo: O Humulus lupulos é uma planta aromática que confere à cerveja o aroma e amargo característicos. Também é a responsável pela formação de uma boa espuma e é uma proteção natural às contaminações microbiológicas. Conforme a quantidade de resina e de óleos essenciais, as variedades de lúpulo podem ser mais amargos e/ou mais aromáticos.
Água: própria para consumo e possuir uma composição em sais minerais adequada à fabricação de cerveja, preferencialmente de fonte natural.
E observando as embalagens destas cervejas baratas, pode-se notar que alguns "extras" foram adicionados à secular receita: cereais não maltados, carboidratos, antioxidante e estabilizante. Os dois últimos componentes se espera, uma vez que são produtos industriais, mas e os dois primeiros? Vejam pois:
Cereais não maltados: pelo nome deduz-se que sejam outros cereais tipo milho, trigo, arroz e a própria cevada que não foram germinados. Imagino que tenha o objetivo de atenuar o gosto ("cerveja leve e suave") e, principalmente, os custos de produção.
Carboidratos: Como a categoria dos hidratos de carbono é extensa, não consigo pensar no que seja. Batatas? Dextrose? Arroz cozido? Pão francês? Maltodextrina? Maisena? Caramelo? Também imagino que o objetivo seja reduzir os custos, auxiliando na fermentação, no gosto e/ou na cor.
De qualquer forma o único aprofundamento feito aqui foi a respeito dos ingredientes sem analisar o processo produtivo, ou seja, a fermentação, que certamente teve que ser readequado para que os custos, mais uma vez, fossem reduzidos. Reflexos da economia de escala e das cobranças dos investidores. Outro agravante é o modo de beber do brasileiro: estupidamente gelada, ou seja, amortecendo a língua e não sentindo o gosto, logo, qualquer suco de cevada serve.
Assim, a partir de algumas inferências e empirismo, acho que consegui demonstrar boas causas para os efeitos colaterais da cerveja. Pelo menos eu me convenci. Porém uma pergunta fica em aberto: o que fazer? O que tomar com os amigos ou com aqueles pratos onde o vinho normalmente não é o mais indicado, a exemplo da feijoada? A resposta é procurar cervejas melhores, as importadas (apesar de que a maioria que chega por aqui é industrial) ou dos pequenos fabricantes, as microcervejarias.
Para a sorte dos glutões de plantão é que esta indignação também incomodou a muitos apreciadores que resolveram entrar na luta contra, fabricando a própria cerveja e assim surgiram várias marcas de qualidade no mercado. Além de fabricar cervejas de qualidade, de acordo com as leis da pureza, outros tipos de cerveja começaram a aparecer além da pilsen: porter, ale, pale ale, stout, wissbier, lager, etc. Em geral de produção limitada e, logicamente, preços mais elevados. Mas o investimento extra vale, torca-se quantidade por qualidade, além ajudar de reduzir aquela detestável pança.
Dentre os fabricantes nacionais de cerveja de qualidade posso citar as já cohecidas Baden Baden e Eisenbahn e outras menos conhecidas: Backer, Devassa, Therezópolis, Bruge, Colorado, Bauhaus, entre outras. A medida que eu for tomando, ou tomando novamente, eu compartilharei aqui as experiências e o prazer proporcionando.
Bons goles e sempre com os dois dedos de espuma.
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